sábado, 18 de julho de 2009

REFÚGIO

Sou um homem que se desfolha
em partes íntimas
enquanto debulhas tuas contas
em pequeninos grãos de bordados.
Procuro angustiado tuas frestas
esgueirando-me em precipícios
ouvindo distante tua pesada respiração.
Teu corpo me some entre as mãos
e se converte em várias bifurcações
onde me perco.

Não há portas.
Não há grades.
Apenas um homem que se descobre
na tua sombra despojada,
refúgio embrutecido de palavras.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

CANTARES

III

O anjo que me guarda
Acordou cruel demais.
Postou filete de sangue na porta
Parte de sua própria carnadura
E me trancou toda por dentro.
Saiu às ruas, em claro testemunho
E escreveu latente no portão: aqui jaz.
Despiu-se da pele de anjo
Cortou suas longas asas
E foi morar entre pernas
Onde todo perfume é doce.