quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MINI CONTO

E ela tomou o vinho...não estava nem tão frio assim, mas decidiu quebrar algumas regras na vida. Cansou de ser boazinha, aliás, ser boazinha era o que ela menos queria naquele momento. Pensou se estava bem vestida o suficiente. Achou que sim. Pensou se valeria a pena. Disse a si mesma que sim. E que parasse de pensar bobagens. Ela era bonita e pronto. Isso bastava.
Olhou-se uma vez mais no espelho e teve a idéia de abrir um dos botões da blusa. Insinuava seus belos seios. Sim, tinha belos seios. Sorriu sentindo o calor do vinho descendo pela garganta. Sim, estava pronta.
Caminhou devagar até a varanda onde a outra estava vestida de preto, os braços abertos...jogou-se neste abraço há tanto esperado e o vermelho-sangue-vinho espalhou-se pela escuridão adentro.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

QUANDO ME DEITAS




Quando me deitas
vais abrindo meus caminhos lentamente
tocando os vãos, desvãos inacabados,
cheios de silêncios mórbidos.
Teu olhar me suga, vertiginosamente,
enquanto murmuras águas marinhas,
algas e um tanto de sal.
Pareces pequeno.
No entanto, consegues envolver-me
despojada e extrema
no teu peito vasto.

Quando me deitas
e percorres lentamente meus caminhos,
minhas flores se entregam nesse claustro
de anseios e sussurros.
E as tuas palavras, as mais doces,
vão queimando os muros,
lençóis e o pequeno quarto.
Pareces pequeno.
No entanto, abranges inocente,
todos os meus cantos e recantos.
E tudo é gozo de tanto tempo.
E tudo é cio e umidade.

domingo, 13 de setembro de 2009

TÉDIO

Tudo está lá fora...
A vida às moscas
e minha alma pendurada no varal...

domingo, 6 de setembro de 2009

CANTARES VII

VII

Por mais que eu te diga concha, água, âncora
Não me escutas.
Desmanchada pelos vendavais
Contemplo minha herança em sobressalto
E retraio-me ante tanta escuridão.
Depois, há o tempo
Refazendo os caminhos
Com meus próprios medos.
Cansa-me o gesto repetido
Tua canção antiga
E a solidão alheia.
Sou minha própria inquisição.