segunda-feira, 30 de novembro de 2009

INTOCÁVEIS


A palavra vem do meio do silêncio, quente e limpa como o choro.
O choro vem mais de dentro, onde as palavras não tem nenhum sentido.
O choro e a palavra complementam-se no espaço que não pode ser visto
porque não se vê enquanto se chora
e não se fala enquanto não se vê.

A palavra arrebenta o incomunicável.
O choro arrebenta o indecifrável.

O choro cala. A palavra silencia.

Nem tudo é tocável.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

CANSAÇO


Hoje, estou pequena demais. Cansa-me a casa, o quarto, a rudeza do dia. Tudo é vidro estilhaçado junto à janela. Pesa-me a alma. Pesa-me tanto que me torno impossível de um ato de carinho. Não quero mais esse rosto de tantos anos. Também não quero a maturidade de quem já sabe o que fazer com quadros antigos. Quero a criança que fui, tão constrangida. Quero o colo de minha mãe pra deitar-me como a primeira vez. Quero a leveza das coisas pra poder respirar e pular as janelas, inclusive as que dão aos abismos. Eu não sou uma flor. Sou uma mulher com muitos espinhos.