quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

POEMA PARA JOÃO

Eu poderia ter feito tantas coisas por você
poderia ter te dado outros risos
tanto orgulho
poderia ter andado mais de mãos dadas com você
te ouvido mais
perdido meu tempo só te olhando
eu poderia ter te dado mais netinhos
poderia ter dado seu nome a todos eles
poderia ter te dado o melhor de mim
eu poderia ainda está lá, de mãos dadas com você Pai.


Perdoe-me esse grito calado em meus olhos.
Perdoe-me a minha covardia.

Eu não quero ir lá
eu não quero não te ver
nem confrontar uma realidade que é fantasiosa
não quero.
Não estás ali, não estás ali
estás dentro do meu coração Pai.

Eu poderia ter ido com você
eu poderia ter caminhado contigo rumo ao desconhecido.
Despedistes de mim sem me dizer que partias pra sempre.
Não quero voltar lá Pai.
Perdoa-me o egoísmo
Perdoa-me a minha covardia
e antes que eu me esqueça mais uma vez
eu ainda te amo Pai
e isso é uma coisa que não dá pra apagar do meu mundo.

Deus escreveu sua história sobre a terra
e como fogo, pingou-a sobre o meu coração
ele ainda arde em chamas
ele ainda bate onde o seu parou
não há portas Pai

não há portas.

terça-feira, 3 de abril de 2012


ABSURDOS

Estou só, mãe,
mesmo com flores ao redor, só.
E não é a solidão triste de quem se perdeu pelo caminho,
é a solidão de quem foi e conseguiu chegar.
Estou só.
Da mesma forma que comecei.
Lembra mãe? Eu intuía a trajetória.
Nunca soube o silêncio
este vento que me habita
depois que sua morte me calou a boca e a alma.
Estou só mãe.
Mas essa aura de verdade crua, que me bate à porta,
me delicia.
Não me assusto.
Abro a porta e deixo-a entrar.
Conversamos por horas sem precisar abrir a boca.
Ela se diverte com meus pequenos erros
e eu me divirto com sua paciência.
Um dia a gente vê esta luz.
Um dia ela está lá e você tem que abrir a porta.
Tempo de resguardos e pequenos dizeres
onde nada mais falta e onde nada se basta
tempo em que já não sou, nem és.

Somos apenas absurdos mãe,
apenas absurdos...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

VIAGEM


Em homenagem a minha nova amiga Sayonara Montenegro.



Viajei. Tomei a direção oposta.
Toquei em tudo o que foi proibido
nessas centenas de anos que reencarnei.
Fui vagabunda e corriqueira.
Bruxa e duende.
Dancei a dança do ventre
completamente nua.
Fiz a carne dos homens arder.
Por isso, o fogo nas palavras,
 a poesia sacrificada.
E cá estou,
olhando a voracidade do monstro
solto pelo quarto.
Estou à mercê de sua brutalidade
e sua selvageria.
Tateio meu corpo e sua extensão
não é mais do que a pele.
Ardo em febre de silêncio e volúpia
e minha imprudência te olha despedaçado.
E na arena, rezando para que solte os leões,
me renuncio e ardo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

REGRESSO





Volto à terra de granito.
O corpo cheio de poeira
e circunstância.
E medo. Redescoberto.
Um vento não teima,
queima, vencido.
Resquícios de tempos perdidos.
Tudo está desfocado
e transcorre em meio à euforia disfarçada.
É noite.
Uma noite muito escura
Numa terra de granitos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

CANDEEIRO


CANDEEIRO

É trêmulo o verso
e tênue como a chama do candeeiro,
que marca a página
de tinta e cinzas
nesse pardieiro.
Há uma cadeira
e uma mesa velha,
uma cama sofrida,
uma casa varrida...
Há um silêncio profundo
que acorda a noite densa
que tisna a lua imensa
nesse fim de mundo...
Há um verso vindo à galope,
cavalgando brenhas da escuridão.
E cai, manchado, sem perder o porte,
poema de tisna do meu lampião.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NATAL NO SERTÃO



Na mesa, rapadura com farinha
Árvore seca com flocos de algodão
Pedacinhos de chuva no telhado
E a brisa fria de mais chuva no terreiro.

Presentes que só o sertanejo entende.
Promessas que só ele traz nos olhos.

Não existe natal mais lindo...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


JURAMENTOS


Um dia meu pai disse:
_Espera que eu volto
pra consolidar o nosso amor.
E minha mãe envolveu-se
em delicadas nuvens de espera.
Como flor, lírio, crisântemo,
tricotando o mesmo casaquinho
que um dia deixou sem terminar
foi se fazendo bonita e extensa.
O olho na janela,
na esquina da rua,
na carta interminável,
a espera caduca.

Mãe, você foi abençoada.
Eu?

Eu não acredito em juramentos.