terça-feira, 3 de abril de 2012


ABSURDOS

Estou só, mãe,
mesmo com flores ao redor, só.
E não é a solidão triste de quem se perdeu pelo caminho,
é a solidão de quem foi e conseguiu chegar.
Estou só.
Da mesma forma que comecei.
Lembra mãe? Eu intuía a trajetória.
Nunca soube o silêncio
este vento que me habita
depois que sua morte me calou a boca e a alma.
Estou só mãe.
Mas essa aura de verdade crua, que me bate à porta,
me delicia.
Não me assusto.
Abro a porta e deixo-a entrar.
Conversamos por horas sem precisar abrir a boca.
Ela se diverte com meus pequenos erros
e eu me divirto com sua paciência.
Um dia a gente vê esta luz.
Um dia ela está lá e você tem que abrir a porta.
Tempo de resguardos e pequenos dizeres
onde nada mais falta e onde nada se basta
tempo em que já não sou, nem és.

Somos apenas absurdos mãe,
apenas absurdos...

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