VÔOS NOTURNOS
Numa noite escura e espessa
me atrevi a amar-te
e descortinei essa dor perpetuada
se me vejo em ti.
Eu, que já subi tantos ermos,
que já escondi tanto miosótis
em pequenos formigueiros;
eu, que prefiro voar à noite
como morcegos e vampiros
sem ver luz nem alvos
sugando o ouro de dentro;
eu, que grito e rasgo o escuro
da noite em desespero;
eu, voando desesperada
pois me falta o equilíbrio da asa
e do alvo calcinado.
Os vôos não foram feitos
para pássaros cegos.
O meu despedaçar foi de encontro
à tua viscosa parede.
Nunca mais fui pura, meu amor.
Nunca mais.